Por Redação
4 de janeiro de 2024Economista analisa projeções econômicas para 2024
Por mais que 2023 tenha sido um ano cheio de "emoções", André Perfeito faz leitura positiva do período
Foram muitas “emoções” vividas desde janeiro de 2023: o pós-pandemia de COVID-19, o consumo voltando aos poucos, novo governo, altas taxas de juros, arcabouço fiscal, ataques da Rússia contra a Ucrânia e, mais recentemente, o conflito no Oriente Médio. Sem falar nos juros norte-americanos, usados para controlar a inflação. O mundo especula para saber quando começará a queda desses índices, algo que repercute fortemente na nossa economia.
Apesar de tudo isso, a leitura que o economista André Perfeito faz deste período é positiva.
Perfeito é mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), fez parte do ranking anual Top 5 da pesquisa Focus do Banco Central do Brasil (BCB) para projeções de Selic e câmbio (2021), além de já ter sido eleito economista-chefe do ano pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), em 2015.
Um dos principais pontos destacados por ele é que a taxa “mãe” da economia, a Selic (taxa básica de juros), está em queda, o que ajuda no poder de compra do brasileiro. “Nós temos a inflação sob controle, as taxas de juros (Selic) começaram a cair e o Produto Interno Bruto (PIB) deve fechar um pouco mais forte do que o índice imaginado no início do ano”, afirma o economista. “E sem contar o dólar, que também se apreciou ao longo de 2023. Vimos que o real ficou mais forte”, ressalta. Esse cenário deve ser positivo para o setor supermercadista.
Na entrevista a seguir, para a edição de dezembro da Revista SuperVarejo, Perfeito faz uma análise do último ano e sinaliza cenários prováveis para 2024.
A economia mundial sofreu efeito das guerras em curso, ao mesmo tempo que a economia norte-americana está às voltas com juros x inflação, assim como os países da Europa. O que o Brasil, ou mesmo o varejo, pode esperar de 2024 diante de um cenário tão volátil?
AP: Apesar da volatilidade que acontece nos mercados centrais, não devemos sentir de forma muito intensa por aqui. Eu acho que o Brasil reuniu, ao longo dos últimos anos, condições de se blindar do cenário externo. E, além de um nível de reservas muito elevado, temos apresentado saldos comerciais bastante positivos, o que tem feito o real ficar estável. O patamar, hoje, é de R$ 4,90 ou algo parecido. Desta forma, acho que existe espaço para que o Brasil não registre repercussões negativas de fatos externos.
Se os juros dos Estados Unidos começarem mesmo a cair no primeiro semestre de 2024, qual será a repercussão para o Brasil?
AP: Se os juros caem nos Estados Unidos, isso implica dizer duas coisas: ou o real pode se apreciar mais do que já estamos acompanhando na economia ou o Banco Central pode cortar a taxa de juros mais fortemente aqui no Brasil. Isso pode permitir, também, um estímulo maior na economia.
Que balanço você faz de 2023? Ano de novo governo no Brasil, guerras pelo mundo. Quais foram os melhores e os piores pontos?
AP: O ano de 2023 foi desafiador por conta de uma troca de governo em nosso país e, também, em razão da construção, principalmente do arcabouço fiscal (conjunto de regras que tem o objetivo de evitar o descontrole das contas públicas). Se essa pauta (arcabouço fiscal) não avançasse, teríamos um problema muito grande na economia brasileira. Mas vimos que o governo conseguiu. A negociação do governo com o Congresso Nacional tem sido bastante difícil. É um ambiente desafiador para o governo. Mas acho que o saldo do ano é positivo. E sem contar o dólar, que também se depreciou ao longo de 2023. Vimos que o real ficou mais forte.
Qual a sua projeção para o dólar, o PIB brasileiro, a inflação e os juros no país em 2024?
AP: Para 2024, estaremos com o dólar bem mais baixo, em torno de R$ 4,50. O mercado está projetando R$ 5,00, mas acho que vai cair mais do que isso. O PIB brasileiro deve crescer em torno de 2%. O mercado está apostando em 1,5% em 2024. Já com relação à inflação, a expectativa é de 3,5% ou 3,6% e eu acho que será de 3,5%. Em se tratando da taxa de juros, o mercado projeta 9,25% ao ano. Eu imagino que seja de 9,75%. Ou seja, a Selic deve continuar caindo.
O consumo viveu a era do pós-pandemia em 2023. Já voltamos aos números “normais”? O ano de 2024 começa com a curva de juros em queda. Como isso afeta o poder de compra? A taxa de juros no Brasil deve continuar caindo?
AP: Sim. Eu acho que muitas variáveis voltaram a subir. A boa notícia é que está ruim. O que eu quero dizer com isso? A base de comparação é tão baixa, mas tão baixa, que parece que vai subir. Mas é porque a base é baixa. Há esse lado que precisamos levar em conta. A Selic vai continuar caindo. E, mais do que isso, a taxa de juros é uma parte importante do investimento do consumo. Mas há coisas que são tão ou mais importantes. Tem a ver com o nível de emprego, por exemplo. Se o desemprego está baixo, as pessoas ficam mais confiantes, se o consumo está mais alto, a expectativa de aumento do lucro do empresário é melhor e pode melhorar ainda mais. Esse aspecto é muito importante.
O que os supermercados podem fazer para manter a rentabilidade?
AP: Eu acho que o segredo, agora, uma vez que as pessoas estão recuperando o poder aquisitivo, é continuar investindo em tecnologia. Há muito a ser melhorado em várias empresas do setor e tornar tudo conectado, seja com fornecedores, publicidade ou para garantir a fidelidade dos clientes. Certamente é preciso priorizar esse lado. É preciso tentar poupar o máximo possível de mão de obra por meio da informatização. E como os juros estão caindo, talvez fique mais fácil implementar esses bens de capital.
Quais setores da economia foram mais afetados em 2023? Esse cenário deve permanecer em 2024?
AP: A indústria está “andando de lado”. Esse cenário, porém, deve melhorar em 2024. Outra coisa que também se mostrou muito fraca em 2023 foi a produção de bens de capital, que é sensível à taxa de juros. Já dissemos que a Selic vai cair e, talvez, acompanhemos uma melhora nesses parâmetros.
Perfeito comentou, também, sobre temas como: o impacto do ESG na economia, o poder de compra do brasileiro nos supermercados e a taxa de desemprego no Brasil. Clique aqui e confira a entrevista completa na edição de dezembro da Revista SuperVarejo.