Por Redação
31 de dezembro de 2025Do atacarejo de bairro à loja autônoma: os formatos que marcaram 2025
O varejo alimentar avançou em modelos mais próximos, híbridos e eficientes, antecipando transformações que devem ganhar força em 2026
Em 2025, o varejo alimentar brasileiro confirmou uma tendência que vinha se desenhando nos últimos anos: a polarização entre formatos voltados ao preço e à conveniência. De um lado, o atacarejo manteve sua força e ampliou sua presença; de outro, as lojas de proximidade, compactas e autônomas, ganharam protagonismo ao responder à escassez de tempo do consumidor urbano. No meio desse movimento, os supermercados tradicionais enfrentaram maiores dificuldades para crescer e precisaram buscar novas estratégias.
Segundo análise de Patricia Cotti, professora da FIA Business School, o ano foi marcado pela consolidação do chamado “efeito ampulheta” ou “bipolaridade do varejo”. “As lojas de vizinhança e o atacarejo seguiram em expansão, enquanto os formatos intermediários, mais tradicionais, encontraram barreiras para manter ritmo de crescimento”, afirma.
O atacarejo seguiu como o formato com maior penetração nos lares brasileiros em 2025, presente em mais de 70% das casas, de acordo com dados da Kantar. Mas o motor do crescimento mudou. Se antes o foco estava quase exclusivamente em preço e volume, agora a expansão geográfica e a sofisticação do mix ganharam relevância.
“Vimos redes avançarem para cidades do interior com versões mais compactas, o chamado ‘atacarejo de bairro’, além da inclusão de categorias de maior valor agregado, como açougue com corte, padaria assistida e perecíveis de melhor qualidade”, explica Patricia. “Essas mudanças ajudaram a elevar o tíquete médio não apenas pela inflação, mas pela ampliação da cesta de compras”.
Para Américo José, sócio e consultor da Cherto Consultoria, o sucesso do atacarejo se deu, inicialmente, em razão da clareza de posicionamento. “É um formato eficiente, organizado e com uma proposta muito clara de preço e volume, que conversa com todos os perfis de consumidores”, destaca.
Lojas de proximidade e autônomas
As lojas de bairro e formatos compactos foram outro grande destaque de 2025. Impulsionadas pela chamada “pobreza de tempo”, cresceram acima da média do mercado, oferecendo compras rápidas, práticas e cada vez mais integradas ao delivery, funcionando também como pequenos hubs logísticos.
O público que sustenta esse crescimento é diverso. De um lado, Geração Z e Millennials, em busca de conveniência imediata e food service dentro da loja. De outro, consumidores acima de 60 anos, que preferem ambientes menores, de fácil navegação e próximos de casa. As chamadas “missões de reposição” - compras pequenas e frequentes - superaram, em frequência, as grandes compras de abastecimento mensal, fortalecendo redes como OXXO, Carrefour Express e Minuto Pão de Açúcar.
Américo reforça que, além da proximidade, o preço segue sendo decisivo. “As lojas de bairro estão apostando em relacionamento, atendimento mais próximo e produtos que agregam valor, mas sem perder competitividade”, afirma.
Os modelos de lojas autônomas também avançaram em 2025, especialmente em nichos específicos, como condomínios residenciais e ambientes corporativos. Mini markets de condomínio e franquias ganharam escala, apoiados na operação 24 horas por dia, sete dias por semana.
No entanto, o formato ainda enfrenta desafios fora de ambientes controlados. “O custo da tecnologia versus a prevenção de perdas continua sendo uma barreira para lojas 100% autônomas em vias públicas abertas”, observa Patricia. Como resposta, cresceu o modelo híbrido, com atendimento humano durante o dia e operação autônoma na madrugada, equilibrando segurança e eficiência.
Lojas premium e varejo híbrido
Com maior estabilidade da inflação e da renda, as lojas premium voltaram a crescer em 2025, impulsionadas pela busca pela experiência de compra. Categorias ligadas à saudabilidade, como produtos plant-based e itens com alto teor de proteína, registraram crescimento de dois dígitos.
Nesse formato, os perecíveis e os serviços se consolidaram como grandes diferenciais competitivos. “A loja premium deixou de ser um local de abastecimento básico e passou a funcionar como um centro de gastronomia e bem-estar”, avalia Patricia. O consumidor busca por pães de fermentação natural, queijos importados e vinhos selecionados, itens que reforçam a identidade e a proposta de valor da loja.
Diante de margens historicamente apertadas, muitos supermercados passaram a misturar atacarejo com gôndolas premium e serviços de conveniência. A estratégia busca ampliar o ticket médio e a rentabilidade por meio do chamado “mix de margem”: atrair o cliente pelo preço do básico e rentabilizar com produtos de maior valor agregado.
Para 2026, a aposta de Patricia Cotti será no crescimento do atacarejo de proximidade e das lojas de conveniência focadas em perecíveis frescos e comida pronta. Já o supermercado tradicional de “meio termo” tende a perder ainda mais força, caso não se reinvente.
Américo José concorda e acrescenta que supermercados que permanecerem sem um posicionamento claro entre preço, qualidade e conveniência enfrentarão forte pressão. “A reinvenção passa por eficiência operacional, qualidade dos perecíveis, uso de dados e tecnologia e uma proposta de valor bem definida”, conclui.