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Economia
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Por Redação
7 de agosto de 2025

Gôndolas em alerta: tarifas dos EUA forçam supermercados a reagir

Varejo alimentar deve ajustar estratégias diante da alta de custos em carnes, café e pescados exportados

A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, um dos maiores aumentos tarifários já registrados, entrou em vigor nesta quarta-feira (06), com impacto significativo em setores como café, carnes e pescado. Para os supermercados, a combinação de tarifa alta e fortalecimento do dólar pressiona os custos dos produtos importados e insumos usados pela indústria nacional e força varejistas a reconfigurar estoques, fornecedores e estratégias diante da alta de insumos e possibilidade de reposição por marcas locais.

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A medida, que eleva a carga tributária de certos produtos para patamares superiores a 70%, compromete a competitividade brasileira em seu segundo maior parceiro comercial. Segundo dados do Ministério da Agricultura, em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 5,3 bilhões em alimentos para os Estados Unidos, e a previsão para 2025 era de crescimento, mas agora segue em alerta.

No setor cafeeiro, o impacto já é visível. Segundo Celírio Inácio, diretor executivo da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), as tarifas aplicadas sobre países concorrentes como Vietnã e Indonésia abriram espaço para o café brasileiro, especialmente o Robusta, entre abril e junho de 2025. “Ganhamos relevância, mas a perspectiva de uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro exigirá reestruturação estratégica por parte das exportadoras”, afirma.

Apesar do risco, Inácio destaca que o consumo de café nos EUA é sólido. “Mesmo com o novo custo, é improvável uma retração do consumo. O que deve ocorrer é uma redistribuição entre fornecedores, estoques e canais”, explica. A ABIC também aposta em um movimento diplomático para isolar o café da medida, diante de sua importância econômica e da ausência de substitutos viáveis no mercado americano.

Produtos e impactos

Se o setor cafeeiro ainda vislumbra alternativas, o pescado vive uma crise imediata. A Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados) estima que cerca de R$ 300 milhões em produtos estão parados nos portos e fábricas após o anúncio da tarifa. O mercado americano representa 70% das exportações brasileiras de pescado, movimentando mais de US$ 240 milhões e sustentando milhares de empregos — muitos deles na aquicultura familiar e na pesca artesanal.

A entidade protocolou, no Palácio do Planalto, um pedido por uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões, com carência de seis meses. “Sem crédito, não há como manter os estoques e preservar os empregos. Estamos diante de um possível colapso do setor”, alerta Eduardo Lobo, presidente da associação. Por outro lado, a Abipesca também cobra maior agilidade na reabertura do mercado europeu, fechado desde 2017.

A carne bovina brasileira, que alcançou 229 mil toneladas exportadas aos EUA em 2024 e tinha previsão de 400 mil toneladas para 2025, também deve sentir fortemente os efeitos. A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) alerta para a inviabilidade econômica de continuar exportando com carga tributária total superior a 76%, somando tarifas antigas e a nova. A entidade está em diálogo com importadores americanos e colabora com o Itamaraty para tentar reverter a situação, com a aposta da abertura de novos mercados e a manutenção do fluxo comercial com os EUA, que vivem hoje o menor ciclo pecuário em 80 anos.

A FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) também se manifestou, pedindo cautela e uma postura diplomática firme do governo brasileiro. “É momento de presença ativa nas negociações internacionais. A retaliação não deve ser o caminho”, afirma a entidade em nota. A FPA reforça a necessidade de preservar a competitividade do agro brasileiro e evitar rupturas comerciais com parceiros estratégicos.

Como explica economista da Stone, Guilherme Freitas, os supermercados devem se preparar para alta de preços e oportunidades, apesar dos seus impactos, tanto sobre o risco de encarecimento de insumos e produtos, como nas oportunidades de ganhar espaço com alimentos nacionais e exportações próprias. “As disputas tarifárias tendem a fortalecer o dólar frente ao real, elevando custos de importados e pressionando margens do varejo, o que exige que os supermercados precisem ajustar estoques, fornecedores e promoções com rapidez. Agilidade na cadeia será essencial”, conclui.

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