Por Redação
13 de novembro de 2024Atacarejo: modelo passa por reinvenção para atender necessidades dos consumidores
Busca por praticidade e conveniência e localização estratégica de redes têm transformado o negócio no Brasil
Nos últimos anos, o atacarejo (combinação de atacado e varejo) consolidou-se no Brasil, redefinindo o setor de alimentos e bens de consumo. Com a oferta cada vez mais abrangente de serviços, é visível que o modelo "raiz" de atacarejo vem passando por transformações significativas e, consequentemente, se afastando do modelo original caracterizado por preços baixos e estrutura simplificada.
Segundo especialistas, as modificações, no entanto, não significam um ponto final na tradição do negócio, mas sim em uma renovação necessária para surprir uma série de necessidades dos clientes. "Trata-se de uma evolução para atender às novas demandas do mercado. A essência do atacarejo permanece, mas agora ela se complementa com serviços que atraem um público mais amplo, resultando em uma experiência mais completa e prática", comenta Cibele Regis, sócia e consultora da XL Consultoria.
Segundo Cibele, uma das mudanças mais marcantes é a inclusão de novos tipos de produtos como padaria e açougue com prestadores de serviços. "Esse movimento responde a uma demanda crescente por diversidade de opções e conveniência, mantendo o foco no custo-benefício, mas atendendo a uma clientela que busca alternativas ao tradicional. É interessante compartilhar, inclusive, que o atacarejo é o principal canal de compra de abastecimento da geração Z", pontua.
As mudanças no perfil do consumidor motivaram os atacarejos a expandir seus serviços, indo além do preço baixo. O cliente atual quer economia, mas também espera encontrar produtos que atendam a suas necessidades específicas, como itens veganos e saudáveis. "O atacarejo percebeu que, ao oferecer uma gama mais ampla de produtos e serviços, como alimentação e categorias emergentes, pode atrair um público mais diversificado e fidelizar clientes", afirma Cibele.
Questão geográfica
De acordo com Roberto Kanter, economista especializado em varejo e professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a localização estratégica das lojas em regiões centrais também foram grandes propulsoras das mudanças. "Antes, os atacarejos ficavam nas áreas periféricas, focados principalmente em atender pequenos comerciantes e transformadores. Ao moverem-se para locais mais centrais, essas redes passaram a atrair consumidores finais, que buscam uma experiência de compra prática e completa. Este público novo, somado ao interesse em conveniência e diversidade de produtos, exigiu uma adaptação do modelo de atacarejo", explica.
O economista lembra que redes como Assaí estão expandindo suas operações para áreas centrais das cidades, saindo das periferias, e atraindo novos perfis de clientes, especialmente consumidores finais. "Isso representa uma adaptação estratégica para captar um público que busca praticidade e conveniência, além de economia", diz.
Com a nova localização em áreas urbanas, os atacarejos passaram a atender a um público que deseja uma experiência de compra mais completa. Dessa forma, se proliferam serviços como açougue, padaria, adega e áreas de alimentação pronta, pensados para atender a necessidades mais variadas. Esses novos serviços não apenas agregam valor ao cliente final, mas também tornam o atacarejo uma alternativa atraente e competitiva em relação aos supermercados convencionais.
Ainda segundo Roberto, a mudança geográfica tem favorecido a expansão dos segmentos atendidos pelos atacarejos, que atualmente abrangem quatro tipos de clientes principais: 1) pequenos mercados e pequenas redes, que compram em volume para revenda; 2) transformadores, como pizzarias e padarias, que compram para transformar os produtos; 3) prestadores de serviço, como hotéis, hospitais e indústrias, que compram para uso interno; e 4) consumidores finais, que adquirem produtos para consumo próprio.
"Com o aumento da presença nas cidades, os consumidores finais hoje representam até 80% das vendas em algumas lojas, um crescimento significativo em relação aos 30% de antigamente", observa o docente da FGV.
Tendências do setor
Para Cibele, é notável a busca crescente dos atacarejos por diversificação do mix de produtos, com destaque para a inclusão de alternativas mais saudáveis. "Esses produtos, antes restritos a nichos específicos, agora ganham cada vez mais espaço nas prateleiras, refletindo uma mudança no comportamento do consumidor", destaca.
Já Roberto ressalta que as principais tendências no setor de atacarejo estão voltadas para a digitalização e uma localização cada vez mais estratégica dentro das cidades, impactando diretamente os quatro principais segmentos de clientes. "A digitalização envolve a implementação de plataformas de e-commerce e soluções omnichannel, que permitem que os atacarejos atendam clientes que buscam praticidade e flexibilidade na experiência de compra", explica.
Com o uso de tecnologia, a personalização do atendimento ganha destaque especialmente para atender a consumidores finais que esperam conveniência e soluções rápidas.
A expectativa é que o setor continue se expandindo, com lojas ainda mais presentes em regiões estratégicas e acessíveis. "Provavelmente haverá mais uma onda de aquisições e concentração de marcas, pois o modelo de negócio demanda escala e crescimento constante, Os dois grandes líderes, Atacadão e Assaí, vêm aumentando organicamente as suas lojas e o terceiro colocado, Mateus Mix, deve chegar no Sudeste em breve, possivelmente via aquisição", salienta o economista.
Exelente matéria.