
Por Redação
25 de setembro de 2025Mais brasileiros moram sozinhos: como varejo e indústria se adaptam a esse novo perfil de consumo
Supermercados e fabricantes respondem às mudanças de comportamento com embalagens menores, praticidade e soluções que evitam desperdício
O Brasil vive uma mudança estrutural nos seus lares: cada vez mais pessoas optam ou acabam por morar sozinhas em todas as faixas etárias, refletindo transformações demográficas, culturais e de estilo de vida.
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Dados do Censo Demográfico de 2022, do IBGE, mostram que o percentual de domicílios unipessoais — nos quais vive apenas uma pessoa — passou de 12,2% em 2010 para 18,9% em 2022. A tendência se manifesta em todos os grupos etários, com destaque para os mais velhos: entre pessoas com 60 anos ou mais, esse salto foi de 21,5% para 28,7%.
Essa evolução no perfil dos lares vem mudando os hábitos de consumo. Mais do que alterar quantidades, também se transformam expectativas: consumidores que moram sozinhos demonstram preferência por praticidade, porções individuais, embalagens menores e comidas que demandem menos preparo — sem abrir mão de variedade, sabor e qualidade.
Consumo frequente, mas em menor escala
O consultor de varejo Michel Jasper avalia que esse movimento altera a estratégia de produção, sortimento e até a gestão de categorias no supermercado. “Esse dado do IBGE muda a dinâmica do mercado porque mexe diretamente no planejamento de produção e de sortimento. A indústria, que por muitos anos trabalhou com a logica do ‘formato família’ e do ‘abastecimento mensal’, precisa rever volumes, tamanhos e até formulas. Já o varejo alimentar percebe um giro maior em itens de reposição rápida e de menor gramatura”, afirma.
Segundo ele, o consumidor solo compra menos em quantidade, mas gasta mais por unidade. “Prefere praticidade, conveniência e embalagens que evitem desperdício. É um perfil que também valoriza a experiência, experimenta novas marcas e categorias com mais frequência e faz compras quase diariamente, conforme a necessidade imediata”, explica.
Esse comportamento já reflete nas categorias que mais crescem. “Refeições prontas refrigeradas e congeladas eliminam o tempo de preparo; snacks e barras proteicas acompanham a rotina prática; bebidas em embalagens individuais avançam, do vinho em taça às cervejas long neck. Isso pressiona a indústria a diversificar formatos sem perder competitividade”, completa Jasper.
Para o especialista, o maior desafio está no equilíbrio do sortimento. “É preciso atender quem mora sozinho sem perder atratividade para famílias, que ainda são maioria. Oportunidade existe: esse cliente vai mais vezes ao supermercado, busca conveniência e tende a ser mais fiel às marcas que oferecem soluções adequadas ao seu estilo de vida”, diz.
Movimentação nos supermercados e na indústria
A Coop é um dos exemplos de redes que já acompanham de perto as mudanças no comportamento do consumidor. A aposta vai além do mix: a área de rotisseria tem ganhado protagonismo. “Essa área se consolidou como um ponto de apoio essencial dentro do supermercado. Cada vez mais, os consumidores buscam praticidade, conveniência e qualidade, seja para levar uma refeição pronta na medida certa ou para consumir no dia a dia. O supermercado deixa de ser apenas um local de abastecimento e passa a oferecer soluções em alimentação”, afirma Celso Furtado, diretor-geral e CEO da Coop.
A indústria também já se movimenta para atender ao público dos lares unipessoais. Na Nissin Foods do Brasil, a gerente de marca Danielle Ximenes destaca a importância da diversidade do portfólio. “Há mais de 60 anos, o nosso macarrão instantâneo foi criado como uma refeição prática e segura. Hoje, ele se conecta diretamente com quem busca conveniência. Oferecemos 53 produtos em diferentes formatos e sabores, a maioria em porções individuais”, afirma.
Segundo ela, estudos internos mostram que esse consumidor valoriza praticidade, variedade e sabor. “Um feedback recorrente do nosso SAC é a ideia da porção ideal ser ‘um pacote e meio’. Esses insights nos levam a refletir sobre novas gramaturas e reforçam a necessidade de manter um portfólio diversificado”, diz.
Na Seara, Michele Srour, diretora de Marketing de Refeições e Proteínas Congeladas reforça que o aumento dos lares unipessoais já se traduz em consumo. “Quem mora sozinho busca por embalagens menores, porções individuais e alimentos que unam conveniência e sabor. É nesse contexto que nossas linhas Air Fryer e Panelinhas têm ganhado cada vez mais relevância”, comenta.
A executiva destaca que a linha Air Fryer traz seis opções prontas em até 20 minutos, enquanto as Panelinhas reúnem sete pratos prontos inspirados na comida caseira. “Todas vêm em embalagens individuais, recicláveis e colecionáveis. São soluções que se encaixam perfeitamente na rotina de quem vive sozinho”, explica.
Michele acrescenta que estudos internos reforçam a tendência. “Há uma preferência clara por embalagens de 200 g a 400 g, que evitam desperdício, e também pelo consumo em diferentes momentos do dia, como o ‘snack da noite’, cada vez mais relevante”, conclui.