
Por Redação
5 de fevereiro de 2025Alta dos alimentos: quais são os impactos para o varejo alimentar?
Supermercados devem considerar substituições de marcas e até de produtos como ações típicas dos consumidores e refletir sobre estratégias para driblar redução do poder de compra
Um dos principais temas que vem ocupando as conversas atuais entre empresários dos mais diversos segmentos é a alta de alimentos. O assunto também tem sido alvo de cobertura intensa da imprensa e depoimentos de consumidores indignados com o valor de produtos como café, arroz e carnes e são cada vez mais comuns. Em reuniões junto aos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, o Governo Lula tem buscado soluções para lidar com os entraves, enquanto entidades como a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) não só cobram ações rápidas como têm sugerido algumas medidas ao governo, como a reestruturação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT).
Tudo indica que a questão está longe de diminuir o impacto no varejo alimentar e, obviamente, no bolso do consumidor. Nesta quarta-feira, dia (5), Lula afirmou que irá se reunir com representantes de setores de alimentos que estão com preços altos para discutir uma solução de como combater a inflação dos produtos. As carnes estão na mira, assim como outros itens. Segundo ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira (4), o Banco Central não só confirma que os preços dos alimentos se elevaram de forma significativa, como ainda indica que a tendência é de que a alta se propague no médio prazo. “Os preços de alimentos se elevaram de forma significativa, em função, dentre outros fatores, da estiagem observada ao longo do ano e da elevação de preços de carnes, também afetada pelo ciclo do boi. Esse aumento tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”, diz o documento.
De acordo com Ahmed El Khatib, professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), a alta dos alimentos impacta o setor do varejo alimentar de diversas formas. Primeiramente, reduz o poder de compra dos consumidores, que passam a priorizar itens essenciais e buscar alternativas mais baratas, como marcas próprias ou produtos de menor valor agregado. Isso pode levar a uma retração no volume de vendas, especialmente em categorias mais sensíveis ao preço.
Além disso, a inflação nos alimentos pressiona as margens de lucro das empresas, já que repassar integralmente os custos ao consumidor pode resultar em perda de competitividade. "Por fim, o cenário desafia os varejistas a adaptarem seus modelos operacionais para manter a atratividade e fidelidade dos clientes em um ambiente de alta concorrência e preços elevados", observa o especialista.
O mercado de alimentos é caracterizado como price taker, ou seja, os preços são determinados fundamentalmente pelo próprio mercado. "Isso significa que os ofertantes e varejistas não têm controle sobre os preços, apenas os aceitam. Embora haja variações dependendo do tipo de alimento, da região e do modelo de comercialização, essa é a dinâmica predominante. Muitos produtos estão sujeitos a uma concorrência intensa, com baixa possibilidade de diferenciação", salienta Claudio Felisoni de Angelo, Presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (IBEVAR) e membro do Conselho Curador da FIA Business School.
Diante de pressões inflacionárias, explica Claudio, as empresas enfrentam dificuldades para repassar os aumentos ao consumidor final. Caso tentem, correm o risco de reduzir seus volumes de venda devido à perda de competitividade. No caso de produtos relativamente homogêneos, os varejistas costumam resistir ao repasse dos custos, o que leva a uma compressão das margens de lucro.
Substituições necessárias
Entre os itens mais afetados pela alta de preços estão carne bovina, frango, leite, café e arroz, que tiveram aumentos expressivos recentemente. Consumidores têm buscado substituições correlatas para reduzir custos. "É importante mencionar que a contração não se dá necessariamente em volumes físicos, mas sim em valores, ou seja, isso ocorre pela natural substituição de marcas", pontua o Presidente do IBEVAR.
A carne bovina, por exemplo, vem sendo substituída por proteínas mais acessíveis, como ovos ou cortes de frango mais baratos. Em relação ao leite longa vida, algumas famílias passaram a optar por bebidas vegetais ou leite em pó, dependendo da relação custo-benefício. "Em vez de arroz no prato, há uma leve migração para outros carboidratos, como macarrão ou batata, e os consumidores estão reduzindo o consumo do café habitual ou optando por marcas mais econômicas", fala Ahmed, da FECAP.
Entre as estratégias que podem ser adotadas para lidar com a alta dos alimentos e minimizar seus efeitos sobre as vendas estão as promoções de marcas próprias. "Oferecer produtos com marcas próprias que têm preços mais acessíveis pode atrair consumidores sensíveis ao preço e aumentar a fidelidade. Essas marcas podem oferecer economia de até 30% em relação às tradicionais" sugere o docente da FECAP.
Além disso, fazer uma festão eficiente de sortimento e estoque é fundamental. Isso inclui revisar o mix de produtos para incluir itens de maior elasticidade de escolha (produtos com melhor custo-benefício) e otimizar estoques para evitar rupturas ou desperdícios, melhorando a experiência do cliente e reduzindo custos operacionais.
O faturamento de uma loja é resultado da venda de diversos itens, cada um com um grau diferente de elasticidade-preço. Alguns produtos possuem alta elasticidade, ou seja, uma elevação nos preços leva a uma redução mais acentuada no volume de vendas. Já os itens inelásticos apresentam menor sensibilidade a variações de preço, sofrendo quedas menos expressivas na demanda mesmo diante de reajustes.
Para minimizar os impactos de aumentos de preços, o varejista deve gerenciar cuidadosamente seu portfólio de produtos, ajustando os valores de forma estratégica. O objetivo é preservar as margens de lucro na maior medida possível, levando em conta a elasticidade de cada item.
Implementar promoções estratégicas e renegociar contratos com fornecedores para obter melhores condições também podem ajudar a conter aumentos de preços e manter a competitividade no mercado.