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Varejo
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Por Redação
30 de junho de 2025

Bem-estar além do físico: como o varejo pode (e deve) cuidar da saúde emocional dos seus times

Especialistas e líderes do setor explicam por que o equilíbrio emocional, o reconhecimento genuíno e a governança emocional são pilares estratégicos no varejo moderno

No varejo, onde a agilidade, as metas agressivas e a rotatividade compõem o cenário diário, a saúde emocional dos colaboradores se tornou pauta essencial para garantir não apenas bem-estar, mas também produtividade sustentável. Longe de ser um tema subjetivo ou acessório, o equilíbrio emocional tem se consolidado como uma frente estratégica de gestão, especialmente em ambientes de alta pressão. Para entender como empresas do setor estão lidando com esse desafio, o portal SuperVarejo conversou com Ana Carolina Peuker, PhD em psicologia e fundadora do Instituto Labee, e com Evandro Maximiano, CEO e fundador da BuyBye, empresa que adquiriu em 2023 a rede de lojas autônomas, Zaitt.

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Ana Carolina Peuker é taxativa ao afirmar que o que mais desgasta os profissionais do varejo não é o volume de trabalho em si, mas a forma como as decisões são tomadas. “Empresas onde a escala muda sem aviso, metas são alteradas sem critério claro e a liderança age por impulso tendem a gerar insegurança e, com ela, adoecimento emocional. Cultura organizacional é justamente isso: o padrão de relações e decisões do dia a dia. Quando há previsibilidade, critérios justos, líderes preparados para orientar sem desrespeitar e uma rotina minimamente estruturada, já se reduz grande parte do risco emocional”, afirma.

Governança emocional e efeitos das policrises

De acordo com Peuker a governança emocional vai além da boa vontade e dos benefícios pontuais. “Equilíbrio emocional não se faz só com boa vontade ou benefícios pontuais. É preciso tratar a saúde mental como parte do sistema de gestão, com dados, processos e responsabilidade”, reforça. Para a psicóloga, práticas isoladas como pausas ou escuta ativa são importantes, mas insuficientes. “Organizações mais maduras estruturam sistemas contínuos de gestão de riscos psicossociais, com monitoramento periódico, análises por área e planos de ação integrados à rotina”, explica a especialista.

Ainda segundo a fundadora do Instituto Labee, essa abordagem permite inclusive separar com clareza o que é responsabilidade da empresa e o que é a vida pessoal do colaborador. “Nem tudo é causado pelo trabalho, mas é dever da organização saber onde estão suas responsabilidades e como agir de forma ética e preventiva. Também vivemos sob o efeito de policrises: instabilidades sociais, econômicas, ambientais e tecnológicas que afetam a vida das pessoas e a operação das empresas. Ter um sistema de escuta estruturado ajuda a antecipar impactos dessas crises sobre a saúde mental dos times, permitindo uma resposta mais ágil e inteligente”, avalia Ana Carolina Peuker.

Tecnologia e base na autenticidade

Neste cenário, a tecnologia tem sido uma aliada relevante, entre elas está a plataforma AVAX, desenvolvida com aplicação de inteligência artificial para identificar fatores de risco psicossociais como sobrecarga, estresse relacional, injustiça organizacional, fadiga cognitiva e demandas emocionais intensas, sem precisar que o trabalhador se exponha diretamente. “Em uma de suas aplicações em uma rede europeia de móveis, a ferramenta identificou que mais de 50% dos funcionários estavam em risco emocional médio ou alto, mesmo sem sinais visíveis nos indicadores tradicionais”, diz a psicóloga.

Do lado das lideranças empresariais, a rede de lojas autônomas BuyBye tem construído uma cultura voltada ao cuidado emocional desde sua fundação e, para o CEO da empresa, Evandro Maximiano, a base está na autenticidade. “Mesmo com menos contato interpessoal físico, colocamos o bem-estar emocional no centro da nossa cultura porque entendemos que conexão se constrói com propósito, presença e verdade, não apenas com proximidade geográfica”, afirma.

Reconhecimento como proteção emocional

Maximiano também destaca que, mesmo sendo uma empresa digital e enxuta, a BuyBye valoriza relações verdadeiras acima de ferramentas isoladas. “Nosso principal mecanismo é uma cultura de proximidade e responsabilidade. Acompanhamos de perto cada área com lideranças acessíveis e conversas francas”, aponta. De acordo com o CEO, a empresa também oferece parceria com o consultório de psicologia Semear, que disponibiliza atendimento com desconto para os colaboradores. “Aliamos esse benefício à gestão humanizada para criar um ambiente de autonomia com apoio, pois levamos as questões de saúde mental muito a sério”, revela.

Segundo o executivo, o reconhecimento também é visto como um pilar de proteção emocional dentro da BuyBye. “Celebramos quem contribui, mesmo nos bastidores, e criamos espaço para que cada profissional sinta que está construindo algo que faz sentido. Reconhecer com coerência, ouvir com atenção e agir com integridade: é isso que inspira e mantém nosso time engajado”, diz Maximiano. “Reconhecimento não é só elogiar. É demonstrar, com clareza e constância, que o esforço das pessoas tem valor, principalmente, em ambientes de alta exigência, como o varejo. Quando não há esse reconhecimento, cresce o sentimento de injustiça e com ele, o desgaste emocional e a intenção de sair”, corrobora Ana Carolina Peuker.

Em um mercado dinâmico, competitivo e cada vez mais digital, equilibrar performance e saúde emocional se torna um desafio diário e Maximiano acredita que a chave está na verdade como guia. “Seremos sempre exigentes com resultado, mas nunca a ponto de romper o que somos ou sacrificar pessoas no processo. Inovação não exige pressa inconsciente, exige direção clara”, completa o CEO da BuyBye.

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