
Por Redação
4 de julho de 2025Mentoria reversa e liderança multigeracional: a chave para supermercados mais inovadores e colaborativos
Ao promover a troca de experiências entre jovens e veteranos, redes supermercadistas podem transformar suas lideranças, atualizar práticas operacionais e fortalecer o engajamento
Em um setor que exige agilidade, resiliência e alta capacidade de adaptação, os supermercados vêm encontrando na mentoria reversa uma estratégia poderosa para unir gerações e transformar o modelo tradicional de liderança. Ao incentivar a troca estruturada entre jovens profissionais e colaboradores experientes, o varejo alimentar ganha fôlego para inovar, fortalecer a cultura corporativa e engajar equipes. Especialistas ouvidos pelo portal SuperVarejo explicam como essa prática pode ser aplicada de forma eficaz, evitando resistências e gerando resultados concretos.
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Segundo Roberto Kanter, professor de MBA em gestão comercial e gestão estratégica de negócios da FGV, um dos principais benefícios da mentoria reversa é o aumento da integração entre diferentes áreas e perfis profissionais. “Em supermercados, é comum que os colaboradores mais jovens estejam em funções operacionais ou técnicas, enquanto os mais experientes ocupam cargos de liderança ou gestão. A mentoria reversa funciona como um ponto de encontro entre esses dois mundos, permitindo que ambos compreendam melhor os desafios e as decisões do outro lado do balcão”, explica.
Além de aproximar gerações, o programa fortalece vínculos duradouros e Kanter observa que o ambiente criado pela mentoria reversa contribui para desconstruir estereótipos que costumam limitar tanto jovens quanto veteranos. “O jovem passa a entender o funcionamento mais amplo da operação, acessa o histórico das práticas da empresa e desenvolve visão de negócio. Já o profissional sênior se aproxima de linguagens, ferramentas e tecnologias que, muitas vezes, ainda são vistas com certo distanciamento”, complementa o professor da FGV.
Diferenças geracionais como ativo estratégico
No contexto estratégico, a mentoria reversa se destaca pela capacidade de atualizar a noção de liderança, abandonando modelos hierárquicos rígidos em favor de trocas horizontais baseadas em escuta ativa. “A empresa constrói uma cultura mais propensa ao diálogo, à inovação e à crítica construtiva. Isso gera um ambiente mais vivo, menos hierárquico e mais colaborativo, características indispensáveis para a evolução do varejo alimentar no cenário atual”, pontua Kanter.
Para implementar a prática com eficácia, o professor também destaca que é fundamental enxergar as diferenças geracionais como ativos estratégicos. “O primeiro passo é o alinhamento interno, especialmente entre lideranças, sobre o papel da iniciativa: ela não substitui modelos tradicionais de liderança, mas complementa, atualiza e fortalece o repertório coletivo da organização”, enfatiza Kanter.
De acordo com o professor da FGV, a estruturação exige etapas claras de sensibilização, capacitação e acompanhamento. A sensibilização evidencia que a troca é bilateral e valiosa para todos; a capacitação prepara os envolvidos para conversas produtivas, enquanto o acompanhamento previne conflitos e ajusta expectativas. “Outro ponto fundamental é o cuidado na seleção dos pares de mentoria. A conexão deve considerar afinidade de estilo, interesses e disponibilidade real de tempo, garantindo que o programa gere valor prático e mensurável”, destaca o especialista.
Integração de gerações e cuidado com percepções
A integração entre gerações também gera impacto direto na atualização de práticas operacionais e estratégicas e, para Kanter, a convivência entre jovens conectados a tendências de consumo e novas tecnologias e veteranos detentores do conhecimento operacional, cria insights valiosos para redesenhar processos logísticos, utilizar melhor dados para decisões, melhorar o layout de lojas e potencializar canais digitais. “Isso fortalece o senso de pertencimento, reduz ruídos de comunicação e contribui para um ambiente mais colaborativo. Equipes engajadas e que aprendem entre si são mais criativas, adaptáveis e preparadas para os desafios do mercado”, afirma.
No entanto, Roberto alerta para o cuidado com a percepção dos profissionais mais experientes, que podem interpretar a mentoria reversa como ameaça. “Antes de tudo, é necessário deixar claro que a mentoria não tem como objetivo corrigir lacunas, mas potencializar o repertório coletivo da empresa. Trata-se de uma via de mão dupla, onde a experiência segue tendo enorme valor e agora é complementada com novos olhares”, explica.
Daniela Diniz, diretora de conteúdo e relações institucionais do Great Place to Work (GPTW), complementa que, em empresas certificadas como excelentes para trabalhar, a mentoria reversa já se consolidou como uma prática estruturada, com objetivos claros e encontros regulares. “Dessa forma, garantimos que a mentoria realmente aconteça e que as conversas sejam produtivas. Outra prática é sempre sair com um aprendizado de ambas as partes e aplicar esse aprendizado no dia a dia”, diz.
Mentoria reversa como oportunidade e diferencial competitivo
Segundo Daniela, para o GPTW, a convivência multigeracional promove confiança, respeito e orgulho. “Quando valorizada, essa convivência cria um ambiente onde ambas as partes se sentem abertas ao aprendizado mútuo e fortalece a inovação. Não enxergamos o encontro de gerações como conflito, mas como oportunidade de aprendizado e solução de problemas”, explica a diretora.
Para a executiva, a visibilidade às histórias dos mais experientes, aliada à escuta ativa dos jovens, fortalece a cultura e inspira os profissionais a se engajar mais profundamente.
Além de impulsionar a inovação, a mentoria reversa também pode ser um diferencial competitivo na retenção de talentos. “Ao promover a troca, a empresa oferece desenvolvimento real, o que é valorizado tanto por profissionais jovens quanto por veteranos. Isso pode ser decisivo na permanência de talentos e reflete positivamente nos rankings e pesquisas de clima”, afirma Daniela.
Para as empresas que querem evitar erros comuns, a recomendação do GPTW é clara: fugir de estereótipos. “O maior erro é colocar as gerações em caixinhas, cheias de rótulos. Precisamos fugir das palavras ‘choque’ e ‘conflito’ e criar encontros com propósito de união, troca e aprendizado, de forma leve e bem-humorada”, conclui Daniela.