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Por Redação
6 de fevereiro de 2025Cenário econômico e político em 2025: o que esperar?
O economista Estêvão Kopschitz fala sobre perspectivas, projeções de crescimento e taxa de juros e outros pontos que os supermercadistas devem ficar de olho
Em conversa com SuperVarejo, Estêvão Kopschitz, autor do livro Guia de Análise da Economia Brasileira (Ed. Fundamento) e economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aborda pontos relevantes sobre o cenário econômico e político para os supermercados em 2025 e fala sobre o crescimento do país de modo geral. A reforma tributária também é foco de análise do economista, que ainda atua como vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Rio de Janeiro (IBEF-Rio).
SuperVarejo: Com projeções de crescimento do PIB entre 2% (Relatório Focus) e 2,5% (FMI) para 2025, o que os empresários devem esperar da economia brasileira pra este ano?
Estêvão Kopschitz: No último dado disponível do PIB trimestral, o do terceiro trimestre de 2024, a taxa acumulada em quatro trimestres foi de 3,1%. O crescimento de 2024 será divulgado no próximo dia 7 de março e deve ser de cerca de 3,5%. É esperada uma desaceleração do nível de atividade geral no Brasil, principalmente como resultado da política monetária contracionista, mas também devido à redução do impulso fiscal que vem ocorrendo. O impulso fiscal é o “empurrão” que o governo dá na economia com o aumento do déficit público, e isso foi muito forte em 2023 e até meados de 2024, reduzindo-se depois. Mas eu considero que há um elevado grau de incerteza nas projeções atualmente, por diversos fatores: além dos que já mencionei – os efeitos das políticas fiscal e monetária - temos também a influência da economia mundial e o fato de que, nos últimos anos, o crescimento sempre tem ficado acima do previsto. Talvez a pandemia tenha provocado mudanças na economia ainda não captadas pelos modelos. Há, ainda, os efeitos, de difícil mensuração, de reformas que foram feitas ao longo dos anos e podem ter tido impacto positivo na produtividade. Então, em vez de um número exato, é melhor considerar um intervalo para o crescimento em 2025, por exemplo, entre 1,3% e 2,7%.
SV: O que o setor de supermercados, de forma geral, pode esperar de 2025?
EK: Bastante difícil responder isso. Historicamente, quando olhamos comparativamente o índice de vendas do setor na pesquisa mensal do IBGE e o PIB, ambos em termos reais, já descontando a inflação, o setor de supermercados costumava crescer mais do que o PIB, por um longo período, de 2005 a 2020. Em 2021 e 2022 cresceu menos e em 2023 e 2024 voltou a crescer mais. Então, é mais uma coisa em que a pandemia pode ter quebrado padrões. De qualquer forma, creio que se deve ter em mente que as vendas cresceram bem nos últimos dois anos e que, em 2025, o setor estará inserido em um contexto geral de menor crescimento. Em termos de cobrança das autoridades municipais e estaduais, penso que os supermercadistas devem cobrar das autoridades políticas mais efetivas de segurança.
SV: A reforma tributária deve impactar de forma positiva o varejo alimentar?
EK: Sim. Os produtos industriais pagarão menos impostos e os supermercados vendem, principalmente, produtos da indústria. Então, deverão ter mais margem de manobra na definição do preço. Outro aspecto é que a dedução de créditos tributários, evitando o efeito cascata de cobrar imposto sobre imposto, deve ser aperfeiçoada.
SV: Como a política econômica de Donald Trump pode impactar a economia brasileira?
EK: Até o momento, as políticas com impacto econômico são nas áreas de comércio exterior, imigração, desregulamentação, redução de tributos e aumento da produção energia. No comércio exterior, a imposição de tarifas, até agora e no caso de México e Canadá, parece ter tido mais objetivo de segurança do que econômico, pois ele suspendeu por um mês as tarifas impostas assim que esses países se comprometeram a aumentar a vigilância nas fronteiras, tanto no tocante a migrantes ilegais, quanto no que diz respeito a drogas. Mas acredito que haverá, sim, aumento de alíquotas também com o objetivo de melhorar o saldo comercial e proteger a indústria americana. Como, até agora, os aumentos de tarifas não atingiram o Brasil, o país pode se beneficiar disso, pois nossas exportações serão uma alternativa às desses países tarifados. Mas nada garante que não seremos tarifados também. As maiores restrições à imigração podem levar a um mercado de trabalho com oferta mais reduzida nos Estados Unidos, pressionando a inflação e os juros, o que age no sentido da valorização do dólar, no caso dos juros. Já as políticas de desregulamentação, redução de impostos e aumento da produção de petróleo e gás devem impulsionar a economia americana e ajudar a reduzir a inflação, o que é bom para o Brasil.
SV: O aumento expressivo do dólar no final de 2024 pode se repetir?
EK: O principal fator foi a decepção com o pacote fiscal do governo. Então, não se pode descartar que novas ondas de preocupação com a situação das finanças públicas levem a novos surtos de desvalorização do real. Acho que teremos também, na política econômica dos Estados Unidos, uma fonte de volatilidade cambial, como ocorreu neste início do governo Trump, quando o dólar se desvalorizou internacionalmente, beneficiando o real. Neste ano, uma força no sentido de valorização do real será o maior diferencial de juros a favor da moeda brasileira, na medida em que o nosso banco central subir a taxa Selic, aumentando a atratividade para operações que vêm em busca desses juros mais altos.
SV: Em novembro de 2024, 41,51% da população adulta do Brasil estava inadimplente, principalmente no cheque especial e no cartão de crédito, o que corresponde a 68,62 milhões de consumidores. Qual é a expectativa de aumento na taxa básica de juros e como isso pode se refletir nas vendas em supermercados?
EK: A meta para a Selic, definida pelo Copom, chegará a pelo menos 14,25%, mas pode superar os 15%. Os juros altos, não só a taxa básica, mas também os juros formados no mercado, mais cedo ou mais tarde afetam a capacidade e a disposição das pessoas de gastarem, em todos os setores. Mas acredito que o efeito sobre as vendas em supermercados seja menor do que, por exemplo, nos setores de bens duráveis, pois, nos supermercados, predominam bens de primeira necessidade e de consumo não durável ou semidurável.
SV: O que esperar da inflação, das taxas de desemprego e da média salarial?
EK: A inflação neste ano deve ser igual ou maior do que em 2024. A taxa de desemprego deve subir, com o desaquecimento esperado da economia, mas não muito. O rendimento médio, acompanhando a desaceleração geral da economia, deve cair, mas não muito, pois os efeitos do desaquecimento econômico podem demorar a chegar no mercado de trabalho. Penso que, na economia, 2025 vai ser parecido com 2024: inflação acima da meta, juros altos, câmbio volátil e discussão permanente sobre o problema fiscal. Tudo isso em meio, porém, a um crescimento menor, que poderá permitir a queda da inflação e dos juros mais adiante.
Trilha de Conhecimento SV TÁ ON
Estêvão Kopschitz foi o convidado do segundo episódio da Trilha de Conhecimento SV TÁ ON. Neste episódio, o economista trouxe uma análise aprofundada sobre o cenário econômico brasileiro em 2025, destacando temas essenciais para o setor supermercadista. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo: