
Por Redação
4 de março de 2025Criptomoedas no varejo: vantagens e desafios
Apesar de pontos positivos, como redução de custos e maior acessibilidade, a adoção de moedas digitais ainda enfrenta obstáculos e rejeições entre varejistas
Na NRF 2022 (sim, você leu certo!), o pagamento com criptomoeda foi apontado como uma das principais tendências do setor do varejo. Três anos depois, no entanto, a opção ainda vem sendo adotada gradualmente pelas empresas — e com mais cautela ainda por supermercados.
Criptomoedas são moedas digitais ou virtuais que utilizam a criptografia para garantir transações seguras para controlar a criação de novas unidades. Ao contrário das moedas tradicionais (como o real e o dólar), que são emitidas por governos e bancos centrais, as criptomoedas operam em uma rede descentralizada, geralmente baseada na tecnologia chamada blockchain, uma espécie de livro-razão digital público onde todas as transações são registradas de forma transparente e imutável.
A primeira e mais conhecida criptomoeda é o Bitcoin (BTC), criada em 2009. Essas moedas digitais funcionam de modo parecido com o dinheiro físico ou mesmo o “virtual” utilizado para pagamentos no débito ou crédito. O pagamento por meio de cripto funciona a partir de transações em que as pessoas alocam as moedas em wallets, que são carteiras digitais.
No Brasil, especialistas apostam que a facilidade gerada a partir do PIX nos últimos anos vem contribuindo para a ampliação do uso de pagamentos por aproximação e criptomoedas. Em dezembro, foi divulgada uma pesquisa realizada pela Bitso, em parceria com a Semrush, que revelou que, nos últimos dois anos, as buscas por termos relacionados ao mercado cripto cresceram 124% no Brasil. Os brasileiros também estão buscando aprimorar seu conhecimento financeiro. Termos como “educação financeira” registraram 49,5 mil buscas, enquanto “o que é blockchain” e “o que é criptomoeda” tiveram 6,6 mil e 3,6 mil, respectivamente.
Mais experiências, mais adesões
Também em dezembro, a rede de supermercados carioca Zona Sul anunciou que aceitaria criptomoedas como forma de pagamento em sua unidade da rua Barão da Torre, em Ipanema. Segundo a área de Marketing da rede, a operação está em fase piloto e de ajustes, por isso não há dados sobre a adesão.
Na análise de Samara Rodrigues de Lima, Digital Product Manager da Topaz (Grupo Stefanini), de 2023 para 2024, mais de 21 milhões de brasileiros passaram a ter experiência em meios descentralizados de pagamento. “À medida que gigantes do varejo adotam tecnologias mais modernas em seus negócios e atestam o sucesso e segurança da experiência do usuário, como têm feito Magalu e Mercado Livre no Brasil, Microsoft e Overstock nos Estados Unidos e na Europa, por meio da viabilização de negociações com criptomoedas (como bitcoin) em seus marketplaces, há favorecimento para que a transformação digital adentre mais rapidamente ao setor varejista em suas diferentes escalas", comenta Samara Rodrigues de Lima, Digital Product Manager da Topaz (Grupo Stefanini). Ela lembra que leis locais e internacionais têm se ajustado para fornecer um ambiente com fronteiras jurisdicionais melhor definidas e que gerem garantias claras nas negociações realizadas.
Assim como nos demais setores, a adoção de criptomoedas passa por superar o desconhecimento dos usuários sobre o funcionamento da moeda e maneiras de manuseá-la com segurança, bem como por temas de volatilidade. "Alguns players do mercado varejista têm superado estes cenários por meio de tokens proprietários que, inclusive, podem apoiar em programas de fidelidade por meio de recompensas e incentivos, além do próprio pagamento de compras", comenta Samara.
Benefícios e desvantagens
Para Gabriel Falk, economista especializado no mercado de fintechs e host do podcast Plano Real, há várias vantagens na adoção de moedas digitais para o varejo alimentar. "O recebimento de um valor de cripto acaba sendo instantâneo dentro do atual wallet, o que é um ponto extremamente positivo. Além disso, as criptomoedas também são uma boa estratégia para atrair pessoas com um perfil mais desbancarizado", observa. O economista aponta ainda a descentralização como um benefício, uma vez que as criptomoedas exigem menos intermediários e, por conta disso, há redução de custos nas jornadas financeiras.
Outras vantagens, segundo Samara (Grupo Stefanini) são o acesso a novos mercados (não há limites fronteiriços) e questões vinculadas à otimização cada vez maior de estoques e antecipação do fluxo de caixa, viabilizando melhores condições de negociação com fornecedores.
A aceitação de criptomoedas ainda é limitada, o que se torna cada vez mais relevante o investimento na melhoria contínua da jornada de usuários e em ações de educação e conhecimento. Embora as criptomoedas possam trazer vantagens como a redução de custos e maior acessibilidade, também apresentam desafios, como volatilidade de preço (flutuação em relação ao real), risco de fraudes e questões regulatórias.
As transações com criptomoedas podem ser feitas de forma anônima, o que pode atrair fraudadores. Embora o registro das transações seja público no blockchain, as identidades dos usuários não são necessariamente reveladas. Isso cria um ambiente onde as atividades fraudulentas, como esquemas de pirâmide e lavagem de dinheiro, podem ocorrer sem muita facilidade de rastreamento.
Vale lembrar que, no Brasil, as criptomoedas são tratadas como bens ou ativos pelo Imposto de Renda (IR). Isso significa que, os ganhos relacionados a criptomoedas, seja por meio de vendas, trocas ou ganhos de valor, devem ser declarados e estão condicionados a pagamento de impostos.