Newsletter
Receba novidades, direto no seu email.
Assinar
Varejo
...
Por Redação
29 de setembro de 2025

Trabalho por hora no supermercado: flexibilidade que traz desafios

O modelo horista é uma opção de contratação no varejo supermercadista para compor quadro de funcionários, porém exige atenção à legislação, treinamento e engajamento da equipe para funcionar

Buscar por novos formatos de remuneração e trabalho é um desafio constante para o varejo supermercadista, especialmente quando o objetivo é equilibrar a alocação de mão de obra para atender picos de demanda em datas comemorativas, promoções sazonais e horários de maior movimento. Nesse cenário, o modelo de trabalho por hora - ou horista - tem ganhado protagonismo, despertando interesse tanto de contratantes como de contratados, que veem na modalidade uma forma de ganho extra, horário mais flexível ou até mesmo reinserção no mercado de trabalho.

LEIA TAMBÉM
Horistas ajudam supermercados a reduzir falta de mão de obra
Gestão varejista baseada em dados otimiza operações do setor

Priscila Saad, head da AGR Consultores, destaca que o trabalho por hora não deve ser visto apenas como uma forma de reduzir custos, mas como uma estratégia integrada de eficiência e engajamento. “Se bem estruturado, o modelo pode trazer benefícios para todos, como mais flexibilidade para o colaborador, melhor qualidade no atendimento ao cliente e sustentabilidade para o negócio”, afirma. “Este formato é adotado por grandes redes, inclusive, como é o caso do Carrefour, que já adota essa modalidade via plataformas parceiras”, ressalta.

A consultora destaca que entre as vantagens da contratação de horistas está a garantia de um atendimento consistente em qualquer horário, principalmente em funções críticas como caixas, manobristas, repositores e atendentes de setores onde o autoatendimento é limitado, como padaria. “O formato oferece flexibilidade para a escala, atendendo a diferentes perfis, desde jovens estudantes até profissionais em transição de carreira ou pessoas que buscam conciliar o trabalho com outras atividades”, explica.

Essa flexibilidade possibilita também a redução do turnover, pois a disponibilidade do colaborador se alinha melhor às necessidades do supermercado. “Outro ponto positivo é a melhora na qualidade do atendimento, já que a equipe está presente conforme a demanda real dos clientes, evitando sobrecargas ou ociosidade”, conclui Priscila.

Fátima Motta, professora da ESPM e sócia-diretora da F&M Consultores, acrescenta que a contratação por hora reduz os custos fixos, uma vez que o pagamento ocorre apenas pelas horas efetivamente trabalhadas. “Além disso, o modelo permite ajustar as escalas para momentos específicos, como feriados e promoções, de forma eficiente, e pode funcionar como um período de avaliação do colaborador”, comenta.

Desafios presentes

Entretanto, o trabalho por hora também apresenta desafios que merecem atenção. A maior rotatividade entre os horistas exige da empresa treinamentos constantes para garantir a padronização dos processos, atendimento e cultura organizacional. “É fundamental selecionar candidatos com perfis adaptáveis a rotinas flexíveis e comprometidos com a qualidade do serviço”, reforça Priscila.

Além disso, a gestão de performance precisa ser clara: mesmo não sendo funcionários de jornada integral, esses trabalhadores devem ter mecanismos de avaliação, incentivos e reconhecimento para manter o engajamento e o sentimento de pertencimento à organização.

Fátima alerta para a complexidade administrativa e legal do modelo, especialmente no controle das horas trabalhadas, cálculo correto da remuneração e cumprimento da legislação, sob risco de passivos trabalhistas. “Contratos informais, ou com habitualidade e subordinação, podem ser reconhecidos como vínculos empregatícios pela Justiça do Trabalho”, explica.

Para Erlon Ortega, presidente da Associação Paulista de Supermercados (APAS), há ganhos reais de produtividade quando o modelo é bem implementado. “Há uma otimização da mão de obra, redução de custos com horas extras e melhoria no atendimento, com filas menores e serviço mais rápido, fatores essenciais para a satisfação do cliente e a eficiência do negócio”, enumera.

Os especialistas são unânimes em um ponto. Apesar do potencial, a adoção do trabalho por hora exige cuidado com a cultura organizacional. É preciso evitar que os horistas sejam vistos como empregados “de segunda classe” ou meros “tapa-buracos”. “Líderes preparados devem integrar equipes fixas e horistas, promovendo o respeito e o senso de pertencimento”, conclui Fátima.

Deixe seu comentário