O supermercado é um organismo vivo

Dona Rose é uma senhorinha plugada em informações, nas novidades do bairro, redes sociais e rodas de conversas da ginástica.

- Dona Rose, está sabendo da novidade?

- Que novidade? – As pupilas de Dona Rose se dilatam, os ouvidos, já um pouco debilitados pela idade, ajustam a atenção para capturar a voz de Dona Márcia.

- Vai inaugurar um novo supermercado no bairro! Dizem que é moderno, cheio de novidades, muito melhor que o do “Seu Alfredo”...

Imediatamente o cérebro de Dona Rose passa a criar imagens mentais: imagina-se chegando ao novo local, festa de inauguração na porta com algodão doce, pipoca e música.

Entre na loja e percebe a organização impecável, gôndolas arrumadas milimetricamente, com muita oferta de marcas e variedades. Os corredores são largos, limpos e brilham como o piso da casa da falecida mãe.

A iluminação torna tudo muito claro, visível, fácil de ler rótulos, prazos de validade, ofertas e promoções.

Os setores de açougue, padaria e frios são dignos de fotos de revista!

Tudo está muito bem sinalizado e os funcionários: todos com um sorrisão no rosto, uniformizados, proativos para ajudar, para fazer a melhor recomendação de produtos, para lembrarem de produtos faltantes na listinha.

- Dona Rose? Dona Rose?

Aquela voz interrompe o sonhar acordado e traz novamente a senhorinha para o ambiente da academia.

- A senhora estava longe, hein! Eu lhe chamei umas dez vezes.

- Ah, minha filha – dirigindo-se à educadora física – estava num mundo de perfeição...

Termina sua sessão de exercícios, pega sua mochilinha e vai caminhando pra casa.

No caminho, resolve passar no Supermercado do “Seu Alfredo”.

Hummmm, tudo muito diferente da expectativa criada com a novidade no bairro. E a “senhorinha” não se contém e manda para o dono da loja que está na porta do estabelecimento:

- “Seu Alfredo”, a concorrência está chegando, o senhor está sabendo?

- Claro que sim, mas meus clientes são fiéis e vão continuar comprando de mim. O “forasteiro” é que vai quebrar a cara...

Dona Rose solta a mochilinha no chão, coloca a toalhinha no pescoço e liga o alerta de colisão:

- Seu Alfredo, o supermercado é um organismo VIVO, que precisa estar em constante transformação, evolução e modernização.

“Clientes são novidadeiros e amam algo que remeta à sua evolução social. Olhe criticamente para o seu ambiente, instalações, uso de tecnologia, arquitetura, treinamento dos funcionários. Esteja presente em eventos do setor..."

- Quem a senhora está pensando que é? Aqui sou eu quem dito as regras!

- Quem sou eu? Eu sou seu anjo da “não acomodação”, agente da mudança, provocadora da sua sobrevivência...

Sr. Alfredo, subitamente, perde o foco da conversa, se deslumbrando com o próprio histórico de sucesso... quando retoma para o presente, não encontra mais Dona Rose ao seu lado. A realidade bruta explode e salta à sua frente!

Olha para dentro da loja e lagrimas escapam de seus olhos, misturados a um sorriso de lucidez e decisão para transformar o futuro.

E assim o fará com todas as suas forças!