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Por Redação
24 de dezembro de 2025

Reforma Tributária: como os supermercados vão formar preços na era da CBS e do IBS

Confira o artigo exclusivo de Joyce Silva, especialista em área fiscal, para a SuperVarejo

O setor supermercadista, no contexto atual, já opera sob pressão com margens apertadas, guerra de preços, aumento de custos operacionais e instabilidade nas práticas de consumo. Nesse cenário, a complexidade dos tributos envolvidos sempre foi um fator crítico, especialmente para um segmento que lida com milhares de SKUs, categorias variadas e operações interestaduais.

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Com a Reforma Tributária, esse contexto muda. A lógica de tributação por NCM, regimes especiais, MVA e substituição tributária começará a ser substituída por dois tributos: a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). A promessa é de simplificação, mas, principalmente no período de transição, o impacto sobre precificação poderá ser significativo.

Ao contrário dos tributos atuais, que contém regras específicas que variam de acordo com tipo de produto, estado e regime, CBS e IBS seguem um princípio de tributação mais simples e financeiramente neutro. Os pilares que mais afetam o varejo são:

Alíquotas mais uniformes, independentemente da NCM. Ampliação nas possibilidades de tomadas de crédito, com a entrada do conceito de não cumulatividade plena. Redução drástica e posterior extinção da Substituição Tributária, hoje um dos maiores impactos no fluxo de caixa do varejo. Extinção de regimes especiais, que poderá promover mudanças significativas nas questões de logística.

Na prática, sai o modelo baseado em classificação fiscal e entra um modelo baseado no valor agregado e no fluxo operacional da empresa.

O fim da Substituição Tributária, Split Payment e o efeito no caixa

Atualmente, supermercados carregam a Substituição Tributária como um custo invisível: a antecipação do ICMS, com base em uma MVA muitas vezes defasada, afeta caixa e distorce margens.

Com IBS, tributo que irá substituir o ICMS, a tendência é que a ST seja reduzida ao mínimo ou extinta para a maioria dos produtos. Isso altera diretamente fatores como capital de giro (menos imposto antecipado), liquidez, margem operacional (já que a diferença entre MVA presumida e margem real deixa de impactar o resultado). Nesse contexto, produtos de alto giro e baixo valor agregado poderão ser os maiores beneficiados.

Porém, será importante observar os impactos que o novo modelo de arrecadação dos tributos, chamado Split Payment, promoverá no fluxo de caixa das companhias, pois embora as possibilidades de creditamento sejam maiores, o momento de utilização dos créditos muda.

O Slipt vai começar faseado, começando com B2B – vai existir em transações entre empresas (boleto/ted/pix) com os pagamentos aos fornecedores ocorrendo de forma líquida dos tributos. Com isso, o comprador toma crédito do tributo recolhido pelo fornecedor na etapa anterior (não cumulatividade plena).

Com expectativa de entrada em 2027, o novo método começa com utilização opcional, a critério do comprador e precisa ter acordo entre comprador e vendedor. A empresa compradora passa a ter interesse no recolhimento dos tributos do fornecedor.

No geral, a migração para CBS/IBS muda completamente a lógica de precificação no varejo alimentar, pois o preço passa a depender menos de regras complexas de tributos. Produtos antes penalizados simplesmente por serem produzidos em determinada localidade ou terem uma classificação fiscal diferente pela forma de apresentação, por exemplo, passam a ser analisados por margem real e desempenho. Nesse cenário, promoções também deixam de ser neutras e descontos passam a impactar diretamente os créditos tributários, exigindo simulações e controles mais sofisticados para evitar perdas ocultas e garantir que as ações comerciais sejam de fato vantajosas.

Além disso, o mix de produtos se torna um ponto estratégico, já que categorias com melhor aproveitamento de créditos ganham relevância, incentivando redes a reorganizar gôndolas com base em otimização fiscal. Para navegar esse novo ambiente, supermercados precisarão investir em tecnologia, integrar ERP, módulo fiscal e pricing, revisar contratos, auditar a classificação fiscal dos produtos e simular cenários de transição nos próximos meses. Quem dominar o uso de dados fiscais aliados à gestão comercial estará mais preparado para ajustar preços, proteger margens e manter competitividade na era CBS/IBS.

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