Por Kátia Bello
31 de outubro de 2024Qual a função da arquitetura de supermercado?
Confira o novo artigo exclusivo de Kátia Bello, arquiteta e CEO da OpusDesign, para a SuperVarejo
Costumo dizer que quem trabalha com supermercado aprende todo santo dia, o dinamismo que este setor tem e o grande número de pessoas que passam pelas lojas todos os dias, tem muito a nos ensinar!
Hoje quero compartilhar um aprendizado recente que tive na loja de um cliente nosso. Era de manhã, e tínhamos uma reunião de apresentação do projeto de uma nova loja. A reunião era numa loja que fizemos há 3 anos atrás. Eu cheguei mais cedo para poder andar pela loja, porque fazia um tempo que não a visitava. Eis que eu entro no banheiro de clientes e enquanto estou lavando as mãos, uma cliente do supermercado começa a conversar comigo, conversas triviais, até o momento em que ela começa a me dar um feedback sem saber, e me conta toda animada que era o dia de folga dela, e que quando tem um tempo livre prefere passar naquele supermercado ao invés de ir ao shopping. Eu já estava feliz em escutar a primeira parte da conversa quando ela continua me contando que a filha dela sempre passa no banheiro para tirar uma foto no espelho porque a iluminação é ótima e as fotos ficam lindas!!
Esta história é verídica, a cliente não sabia que eu fiz parte da equipe que trabalhou no projeto. Foi uma conversa totalmente espontânea que partiu dela, e para mim foi um dos presentes que as vezes a gente ganha, quando conversamos com pessoas que nos trazem novas informações, e nos fazem refletir.
A primeira reflexão é que a cliente não respondeu a um questionário sobre arquitetura e sim partiu dela externar o seu contentamento. Quem trabalha com pesquisa e analisa marca, sabe muito bem a diferença entre estes dois tipos de manifestação. Para uma pessoa comentar espontaneamente é porque há relevância, e neste caso, contentamento, apreciação e recorrência.
A segunda reflexão é: sobre qual seria de fato o papel da arquitetura de supermercado. Será que quando você olha o banheiro de um supermercado como um lugar meramente sanitário, onde você colocará estritamente a quantidade de vasos sanitários e lavatórios pedidos pela prefeitura da sua cidade, num espaço o mais apertados possível, economizando no revestimento e colocando uma iluminação que até Gisele Bündchen duvidaria de sua beleza ao se ver no espelho, é a melhor decisão de arquitetura? Certamente não! Se não é a melhor decisão, porque isto é comumente feito?
A resposta a esta pergunta daria uma tese inteira com muitas páginas, mas deixo aqui mais algumas reflexões sobre arquitetura de varejo:
- Quando avaliar um projeto de arquitetura procure entender o contexto das pessoas que usarão o espaço e o tempo histórico que vivemos. Antes dos celulares terem câmera fotográfica e existirem redes sociais, não era usual as pessoas tirarem fotos em banheiros, e hoje isto é bem comum, não só nos banheiros, mas em todo espaço arquitetônico que favoreça boas fotos;
- É uma tentação ir pelo mais fácil e só olhar o custo total de uma obra, porém, é mais eficiente olhar o custo, e também a construção de marca que uma arquitetura bem feita vai gerar. Marcas fortes valem muito!
- Por último, saia correndo se algum dia algum arquiteto te falar que você precisa fazer tal coisa, porque está na moda. A moda passa, e a arquitetura de qualidade fica. Isto sim é um investimento inteligente e de excelente custo-benefício.
Pense nisto!! @katiabelloopus