
Por Redação
17 de fevereiro de 2025Preço do café: por que o produto está com valor superior à alta da inflação?
Demanda, matéria-prima, ciclo e economia apontam que cenário deve continuar nos próximos meses
Entre os alimentos que têm passado por aumento de preço expressivo, o café ocupa lugar de destaque. Segundo a ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), o preço médio do quilo do café no varejo praticamente dobrou nos últimos 12 meses: foi de R$ 29,62 para R$ 56,07. E, segundo especialistas do setor e economistas, o produto irá continuar subindo e ultrapassando os índices da inflação.
Segundo Celírio Inácio, diretor-executivo da entidade, uma combinação de diversos fatores tem provocado o aumento do preço do café. Desde 2021, a produção tem sido afetada por questões climáticas, com períodos de geadas, seca intensa (reflexos do El Niño) e chuvas tardias e em excesso (reflexos do La Niña), o que afetou a safra do Brasil e de outros países produtores como o Vietnã. "Somado a isso, há o aumento da demanda global pelo café, as questões geopolíticas e, ainda, a variação do dólar. Com o princípio básico de oferta e procura, e por ser uma commodities negociada em bolsas internacionais, os preços da matéria-prima se elevaram exponencialmente, pressionando o custo da indústria, que precisa repassar o aumento para o varejo e, consequentemente, ao consumidor", explica.
Boas perspectivas só para 2026
Segundo Inácio, considerando os aumentos acumulados da matéria-prima nos últimos meses, principalmente nos últimos quatro, e o valor que foi repassado ao varejo pelas indústria, tudo leva a crer que ainda haverá alguns ajustes entre 20% e 25% nos próximos meses. "Fazer previsões é complicado, mas, depois de abril, o mercado já terá um cenário de expectativa mais clara sobre a colheita deste ano e perspectivas para 2026. Tudo correndo bem, o mercado ficará mais otimista, o que irá favorecer melhores cenários de preços", avisa o executivo.
Já Maurício Takahashi, docente de Ciências Econômicas, da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville, observa que no mercado produtor não existe consenso sobre projeções em relação ao preço do café. "De um lado, existe uma hipótese do preço começar a diminuir a partir do segundo semestre de 2025, dependendo de fatores como melhora nas condições climáticas, redução nos custos de produção e estabilização da demanda. De outro, a hipótese de que eventos inesperados sejam frequentes, assim como as condições climáticas adversas passem a ser o novo normal, e o pressuposto da demanda, ainda em alto crescimento, ao invés de estável faz com que as expectativas de preço sejam de alta", diz.
Matheus Dias, economista da (FGV IBRE) - Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, lembra que em 2024 o preço para o produtor teve uma variação de mais de 120%. "E quando a gente olha para o preço que é praticado para o consumidor, apesar de não ter uma alta tão intensa, ainda assim há um repasse dessa alta que o produtor teve", conta. De acordo com Dias, os preços não devem baixar tão cedo porque o mercado atravessa justamente o momento do ciclo em que a produtividade e a oferta são mais baixas. "A expectativa é de que em 2026, caso não haja nenhum tipo de problema climático, a gente tenha mais oferta e consequentemente preços menores. Mas em 2025 a tendência é que os preços continuem subindo", ressalta.
Na opinião de Takahashi, do Mackenzie, uma sugestão para a indústria minimizar o impacto no bolso do consumidor em possíveis repetições futuras desse cenário é, no longo prazo, investir em tecnologias que aumentem a eficiência na produção e distribuição do café para ajudar a diminuir os custos e o preço para o consumidor. "A criatividade de curtíssimo prazo tem sido desenvolver diferentes tipos de produtos de café, como misturas com outros grãos, para oferecer opções mais acessíveis para os consumidores", comenta.