Por Vitor Garcia
24 de maio de 2022A ascensão do atacarejo no Brasil: modelo de compras cai no gosto popular
Novidade chegou no país pelas mãos da rede Makro que, com seu crescimento exponencial, chamou a atenção dos grandes players do setor supermercadista
O modelo de atacarejo nasceu nos Estados Unidos, nos anos 70, quando grandes redes, como o Walmart, iniciaram as operações. Daí em diante, o segmento só cresceu e se espalhou pelo mundo. Já em 1972, a novidade chegou no Brasil pelas mãos da rede Makro que, com seu crescimento exponencial, chamou a atenção dos grandes players do setor supermercadista. E não demorou até que a maioria das grandes redes tivesse em seu portfólio um atacarejo para chamar de seu.
Em 2020, o crescimento do setor por aqui chegou a 26,7%, segundo a Nielsen IQ, mostrando a força do atacarejo em plena pandemia, sendo o formato de mercado que, até hoje, é o que mais cresce no país. Naquela ocasião, a expansão de supermercados e hipermercados não chegou a 13%. Ainda de acordo com a Nielsen|IQ, hoje, 2 a cada 3 lares (66%) no Brasil fazem compras em atacarejos.
Nesse sentido, no quesito preço, pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostrou que o atacarejo é mais em conta na comparação a outros tipos de loja, como supermercados e hipermercados. Por exemplo, a cesta básica de alimentos fica, em média, 18% mais barata nos atacarejos. Em determinados produtos, a diferença de valor chega a 33%.
Um indicador do forte crescimento dos atacarejos foi identificado pela Fast Ariam, uma das maiores fabricantes de equipamentos para o setor supermercadista do país: a demanda por checkouts, mobiliário para disposição de gôndolas e equipamentos para refrigeração aumentou cerca de 40% nos últimos 24 meses. A corrida para a aquisição de todo esse maquinário é, principalmente, para dar conta da abertura de novas lojas no formato de atacarejo.
Alguns diferenciais tornam o atacarejo um modelo de negócio ou um local de compras realmente vantajoso. Por exemplo, nele os clientes compram diretamente no estoque da empresa. Se você prestar atenção na próxima vez que for em um, notará que o pé direito é bem alto e até quase o teto, há caixas de produtos empilhadas umas sobre as outras. Isso faz com que a empresa reduza sua estrutura, já que no momento em que uma caixa esvazia, basta pegar a seguinte.
O número de funcionários é bastante reduzido, já que o atendimento acontece praticamente no sistema self service. E o fato de a equipe ser extremamente enxuta também reflete diretamente no preço dos produtos, para menos.
Os preços são apresentados de forma diferenciada: ao levar uma única peça, o cliente paga um valor. Mas se levar um pacote com mais unidades do mesmo produto, o preço cai consideravelmente. Esse sistema, inclusive, chegou a criar um outro fenômeno comercial: as pessoas começaram a criar clubes de compras, em que adquiriam em grupo os produtos em grandes quantidades para garantir os valores mais baixos por unidade ao dividir a mercadoria entre seus integrantes.
Os atacarejos normalmente funcionam em galpões localizados fora da região central da cidade. Isso porque nesses lugares o valor do imóvel é mais barato e faz com que a margem de lucro possa ser preservada mesmo praticando preços baixos.
Nesse tipo de comércio, a variedade de produtos é bastante limitada, cenário muito diferente de um supermercado de redes. Isso porque as compras são realizadas em grandes lotes para garantir um preço mais baixo, e para dar vazão a tamanho volume, é preciso sacrificar o número de marcas por produto. Mas para o consumidor, a troca funciona muito bem: como está em busca de preços baixos, não há grande resistência em conhecer novas alternativas similares.
E, por fim, ao praticar um alto volume de vendas, o atacarejo consegue elevar o ticket médio, tornando assim a sua atuação um ótimo negócio para os proprietários.
O fato é que em virtude da crise e das altas taxas de desemprego, os cidadãos brasileiros buscaram, e ainda buscam, novas alternativas de compras domésticas a fim de que seus custos reduzissem, o que explica parte da ascensão do atacarejo nos últimos anos. Mas para conquistar e, principalmente, fidelizar esse público, o atacarejo precisa se adequar a estratégias específicas, considerando que o público desse negócio tem outro perfil em comparação com o varejo tradicional. Sendo assim, o investimento de recursos em melhorar a experiência do cliente, principalmente através de inovações tecnológicas, é essencial para a manutenção e aumento da competitividade da empresa no mercado.
Getulio Humberto Piloneto é gerente Comercial do Viasuper, software de gestão da Viasoft para o varejo supermercadista, atacarejos, centrais de compras e sacolões.